Papa, sobre a reforma litúrgica conciliar: “Houve muitos equívocos e irregularidades.”
Ano da Fé chegando, celebração dos 50
anos do Concílio Vaticano II também… Procurando refletir um pouco sobre a
sagrada Liturgia, o Santo Padre se pronuncia:
“Com
base numa apreciação cada vez mais profunda das fontes da Liturgia, o
Concílio promoveu a participação plena e ativa dos fiéis no Sacrifício
Eucarístico. Hoje, olhando os desejos então expressos pelos Padres
Conciliares sobre a renovação litúrgica à luz da experiência da Igreja
universal no período transcorrido, é claro que uma grande parte foi
alcançada; mas vê-se igualmente que houve muitos equívocos e irregularidades.
A renovação das formas externas, desejada pelos Padres Conciliares,
visava tornar mais fácil a penetração na profundidade íntima do
mistério; o seu verdadeiro objetivo era levar as pessoas a um encontro
pessoal com o Senhor presente na Eucaristia, e portanto com o Deus vivo,
de modo que, através deste contato com o amor de Cristo, o amor mútuo
dos seus irmãos e irmãs também pudesse crescer. Todavia, não
raro, a revisão das formas litúrgicas manteve-se a um nível exterior e a
‘participação ativa’ foi confundida com o agitar-se externamente.
Por isso, ainda há muito a fazer na senda duma real renovação
litúrgica. Num mundo em mudança, obcecado cada vez mais com as coisas
materiais, precisamos de aprender a reconhecer de novo a presença
misteriosa do Senhor Ressuscitado, o único que pode dar respiração e
profundidade à nossa vida.”
“A Eucaristia é o culto da Igreja
inteira, mas requer também pleno empenho de cada cristão na missão da
Igreja; encerra um apelo a sermos o povo santo de Deus, mas chama também
cada um à santidade individual; deve ser celebrada com grande alegria e simplicidade, mas também de forma quanto possível digna e reverente;
convida-nos a arrepender dos nossos pecados, mas também a perdoar aos
nossos irmãos e irmãs; une-nos a todos no Espírito, mas também nos
ordena, no mesmo Espírito, de levar a boa nova da salvação aos outros.”
Papa Bento XVI
O Papa traça – como de costume – uma
linha entre o que desejavam os padres conciliares e o que aconteceu
efetivamente após a sua realização. Com a explosão da contracultura e da
revolução sexual dos anos 70 moldou-se um certo “espírito do Concílio” –
o aggiornamento proposto por João XXIII passaria de
“transmissão da fé cristã ao mundo moderno” para uma completa
“secularização do Evangelho”. Aquilo que pretendiam os bispos, em
comunhão com o Santo Padre, foi totalmente deturpado. Os modernistas
surgiram para fazer da mensagem de Cristo aquilo que bem entendiam,
esquecendo-se da fidelidade à
Tradição de dois mil anos da Igreja. O
resultado foi devastador… Os frutos amargos de toda esta distorção do
Vaticano II quem colhe somos nós.
Especificamente no que se refere à
Liturgia, são visíveis os estragos feitos nesta realidade que deveria
ser tratada com todo respeito e diligência. Os sacrários foram para o
canto das igrejas: Jesus era tirado do centro; em seu lugar, deixava-se
um solene vazio. A cruz foi tirada do altar: a Missa “deixava de ser”
sacrifício, para representar uma mera celebração festiva, um banquete. O
canto gregoriano foi substituído por algumas músicas animadas, de
louvor – e a ideia de sacrifício caia definitivamente em ostracismo.
Como recuperar o verdadeiro espírito da Liturgia – ou seja, o espírito de sacrifício, de solenidade? O caminho é simples: passa pela senda da obediência.
Ao falarmos de Liturgia, devemos recorrer à figura da sarça ardente.
“Moisés notou que a sarça estava em chamas, mas não se consumia. (…)
Vendo o Senhor que Moisés se aproximava para observar, Deus o chamou do
meio da sarça: ‘Moisés, Moisés! (…) Não te aproximes daqui! Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é chão sagrado’.”
(Ex 3, 2.4-5). Sacerdote, vais celebrar o Santo Sacrifício? Então,
“tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é chão sagrado”.
Vais rezar a Oração Eucarística? “Tira as sandálias dos pés”, não tenhas
a pretensão de alterar uma vírgula do que lês, afinal “o lugar onde
estás é chão sagrado”. Vais receber o Corpo e Sangue do Santíssimo
Redentor, “tira as sandálias dos pés”… E esta atitude pode ser indicada
não só aos sacerdotes, como também aos religiosos, aos leigos e a todos
que, na Igreja, são chamados a assistir à Santa Missa. A
Liturgia católica é um “chão sagrado” e qualquer um que pretenda, como
Moisés, aproximar-se, deve imediatamente “tirar as sandálias”,
reconhecer a sublimidade do mistério que vai contemplar: se
Moisés ficara intrigado com uma sarça, quanto não deveríamos ficar
extasiados com o milagre da transubstanciação, do pão e do vinho que se
transformam na carne e no sangue do próprio Deus!
Que possamos participar sempre com mais
devoção e fervor da Santa Missa, tendo em mente que foi por meio desta
celebração que, ao longo dos séculos, inúmeros servos da Igreja se
santificaram; que foi recebendo o Corpo e Sangue do Cordeiro que se
sustentaram as almas dos bem-aventurados; que foi celebrando este
Sacrifício que uma incontável legião de sacerdotes salvaram a si mesmos e
aos seus.
Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!
Salve Maria Santíssima!
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